É, voltei!


Minha alma está cheia de coisas para contar, e mais uma vez fui engolida pela rotina. Às vezes acho que o mundo é pequeno demais para acomodar todos os meus pensamentos e acabo não realizando parte do que desejo, boa parte...faz tempo que não escrevo.
Sou do tipo que precisa de grandes sentimentos para me ajudar a escrever, então percebo que sou um tanto "normal", e chegar aos 40 anos e se dar conta disso, me assusta um pouco, apesar de saber que posso ainda viver pelo menos mais 40. Mas sei por que assusta: terei mais 40 anos, sem a disposição dos 20, o encantamento dos 30 e os medos dos 40.
Queria ser aquele tipo de mulher que consegue perceber tudo a sua volta, e outras coisas que estão num raio de distância ainda maior, sabe? Como se tivesse um GPS ou radar. Aquela mulher bem-sucedida em seu trabalho, que está sempre bem vestida, penteada, maquiada. Que tem a sua casa impecável, seus filhos, todos, bem cuidados, que consegue acompanhá-los, levá-los à escola, às consultas, e ainda ir para o trabalho e depois sair para jantar com o marido com um entusiasmo contagiante. Essas que a gente vê nos filmes. Fala sério! Essa mulher existe mesmo? Porque ela anda atormentando a minha vida. Sou muito competitiva, e ter essa mulher me perseguindo, angustia-me. Não sei se posso vencê-la.
Queria não dar ouvidos a tantas coisas, mas somos atacadas todos os dias pelo ideal almejado pela sociedade: a "bonita" do parágrafo anterior.
Essa semana fui de novo abordada para ser elogiada pela minha paciência, e no mesmo dia, criticada por isso. Esse discurso "não faça nada que não te deixe em paz consigo mesma; as opiniões dos outros, são realmente dos outros, e mesmo que sejam sobre nós; não tem importância; e blábláblá" é tudo mentira, só serve como consolo. Nessas horas o melhor mesmo é mentir para si mesma.
Vivemos sim para agradar aos outros, para superar as expectativas, dos outros; para fazermos tudo certo, para os outros. E quando não conseguimos, sofremos. Assinamos nosso atestado de incompetência.
Por que não pode ser simples? Por que não podemos ser nós mesmos? Se não ferimos ninguém, se não prejudicamos ninguém, se temos qualidades, se somos do bem, por que nos preocupamos tanto em ser aceito?
Por que não posso fazer bem o que sei fazer? Por que tenho que fazer coisas que não sei, ou que não quero fazer? A menos, claro, que seja algo extremamente necessário, e que a vida não nos permitiu, por fatos e circunstâncias, outra escolha, ainda que sempre haja a opção: escolhas. Não pense aqui que sou irresponsável ou que banalizo coisas importantes, jamais. Não quero aqui me isentar de fazer o que tem que ser feito. Não. Mas às vezes vamos acumulando bagagens, sacolas, caixas, cheias e vazias, dos outros, para os outros.
O que escrevo não é poesia, não é romântico. É simplesmente a vida, descomplicada.
Por que tenho que ser uma bomba relógio? Por que não querer discutir, brigar ou viver a margem da ansiedade é confundida com apatia? Por que escolher não assistir novelas e noticiários sangrentos é sinônimo de alienação? Por que jeans, camiseta branca e havaianas te tornam desleixada? Por que ser "boazinha" te torna infantil ou fraca?
Por que a tranquilidade incomoda as pessoas?
"(...) Havia algo que tinha um cheiro inconfundível de alegria. De vida abraçada. De chuva quando beija a aridez. De lua quando é cheia e o céu diz estrelas. Um cheiro da paz risonha do encontro que é bom.” Ana Jácomo
Mais amor, por favor!
É, voltei! Voltei a fazer uma das coisas que mais gosto: escrever!




 Ilustração de Íris Scuccato

3 Comentários

  1. Saibas que esse "voltar" faz meu coração sorrir!!!!

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  2. Abrir o coração não é para qualquer um, despir-se das armaduras da vida dá medo. Parabéns,amei!Hoje, contigo, tive um desses momentos de prazer puro e simples:ouvir-te. Foi tão bom!E agora,ler-te, que delícia!Obrigado por essa brida fresca.Bj

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